É perfeito o imperfeito que não precisa da perfeição para
ser belo. É saciável a sede - que só se mata com abundante água - do beduíno em
frente à miragem que se esvai, mas que por alguns segundos permaneceu e saciou
toda vontade fisiológica e psicológica do viajante que nunca se perderá por
entre as dunas.
A miragem é tudo que ele sonhou durante noites, é tudo que
ele desejou por dias de sol escaldante, é tudo que ele poderia querer. Não é só
água, em significado nunca seria nunca será. É desejo, é sonho, é um sinal,
como se a areia não fosse mais tudo que ele tem, a tal luz no fim do túnel,
segundos de sonho concreto. E, se a realidade vem, ele viveu aquele momento
como único que jamais será roubado, jamais esquecido, os segundos mais doces de
sua caminhada.
Eterno enquanto dure, durante toda vida do imortal que falece
quando o infinito acaba. Ele, porém, continua vivo, não mais imortal, apenas
vivo. Um vivo que vaga, que sobrevive, que bebe que come dos pães menos doces
por eternos dias que um dia terão fim, este que parece longínquo apenas a seus
olhos, morada de tortuosos olhares emersos em águas cristalinas que lhe molharão a boca, as mãos, os pés até ele
aprender a andar sobre essas águas, até ele fazer delas seu chão e não mais
escorregar, até o sol leva-la toda consigo restando apenas os sais que marcarão
a pele e deixarão as lembranças, as mais doces.
Cresce a vontade quanto mais se lembra, mas é necessária a embriaguez.
Se permanecer bêbado é lá perigoso, a ressaca pode ser triste, pois ela leva
aquilo de mais torto que mais sentido fazia para um cego, ou não, que anda
trocando os pés, numa avenida qualquer, sob os olhares do décimo, nono, oitavo,
sétimo andares.
A ressaca apaga, a ressaca dói, a ressaca cura a necessidade
absurda que se tinha daquela fonte. A sobriedade é pior porque quando ela chega
mesmo um contato direto com a fonte não causa mais dependência. Aos olhos dos
sóbrios por excelência, ela é magnânima, mas para um embriagado é a sentença do
fim e o fim nem sempre é a melhor escolha, a mais desejada escolha.
Depois de uma longa recuperação, ela (a sobriedade) parece a
melhor opção, a única sã e com ela, um novo infinito se molda um novo “eterno
enquanto dure” porque se nada é para
sempre, a gente faz do sempre
algo que tem fim e a frase fica nada é para ter fim para que o nada dê
lugar ao tudo e este sim passe a ser para sempre.
Às vezes, olhar do ângulo
errado faz do certo torto.
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