Barquinho de papel (azul)

Hoje sonhei com meu avô  Que tudo preparava para encontrar minha avó  Tudo. Elevadores, espaço, bosque, casa. Tudo que ele achava que precisava. Para encontrá-la e com ela ficar - novamente. Ontem fui dormir triste e acordei feliz com o sonho. Os detalhes se sobrepuseram na memória e a narrativa não tem coesão, coerência, tampouco roteiro. Só um sentimento: amor. Quase no final do sonho ele pegava a viola e começava a tocar música autoral para ela: Barquinho de papel. Enquanto eu, de posse de um papel azul, tentava fazer um origami de barquinho com um pássaro para entregar a ele, quando terminasse de tocar. Mas eu não soube terminar, me perdi entre as dobras. Ele tocara a última estrofe quando o sonho, esse sim, terminou: "Eu ja tava estressado  Com aquele tanto de trabalho Canário é igual a soldado  Se come fora de horário  Pode até não existir" Acordei cantarolando, como moda de viola, me perguntando o que havia de romântico nesta canção. Talvez houvesse nos v...

Fita, nó e laço: Nem sempre dá pra separar.

  É perfeito o imperfeito que não precisa da perfeição para ser belo. É saciável a sede - que só se mata com abundante água - do beduíno em frente à miragem que se esvai, mas que por alguns segundos permaneceu e saciou toda vontade fisiológica e psicológica do viajante que nunca se perderá por entre as dunas.
  A miragem é tudo que ele sonhou durante noites, é tudo que ele desejou por dias de sol escaldante, é tudo que ele poderia querer. Não é só água, em significado nunca seria nunca será. É desejo, é sonho, é um sinal, como se a areia não fosse mais tudo que ele tem, a tal luz no fim do túnel, segundos de sonho concreto. E, se a realidade vem, ele viveu aquele momento como único que jamais será roubado, jamais esquecido, os segundos mais doces de sua caminhada.

  Eterno enquanto dure, durante toda vida do imortal que falece quando o infinito acaba. Ele, porém, continua vivo, não mais imortal, apenas vivo. Um vivo que vaga, que sobrevive, que bebe que come dos pães menos doces por eternos dias que um dia terão fim, este que parece longínquo apenas a seus olhos, morada de tortuosos olhares emersos em águas cristalinas que lhe molharão a boca, as mãos, os pés até ele aprender a andar sobre essas águas, até ele fazer delas seu chão e não mais escorregar, até o sol leva-la toda consigo restando apenas os sais que marcarão a pele e deixarão as lembranças, as mais doces.

  Cresce a vontade quanto mais se lembra, mas é necessária a embriaguez. Se permanecer bêbado é lá perigoso, a ressaca pode ser triste, pois ela leva aquilo de mais torto que mais sentido fazia para um cego, ou não, que anda trocando os pés, numa avenida qualquer, sob os olhares do décimo, nono, oitavo, sétimo andares.
  A ressaca apaga, a ressaca dói, a ressaca cura a necessidade absurda que se tinha daquela fonte. A sobriedade é pior porque quando ela chega mesmo um contato direto com a fonte não causa mais dependência. Aos olhos dos sóbrios por excelência, ela é magnânima, mas para um embriagado é a sentença do fim e o fim nem sempre é a melhor escolha, a mais desejada escolha.
  Depois de uma longa recuperação, ela (a sobriedade) parece a melhor opção, a única sã e com ela, um novo infinito se molda um novo “eterno enquanto dure” porque se nada é para sempre, a gente faz do sempre algo que tem fim e a frase fica nada é para ter fim para que o nada dê lugar ao tudo e este sim passe a ser para sempre.


  Às vezes, olhar do ângulo errado faz do certo torto.

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