As palavras voltam a meus punhos e descem por meus dedos,
mas ainda não sei se tomarão forma. Não sei se pintarei com elas um texto ou
apenas farei delas aquarela. Tenho muitas cores em mãos, ainda nos potes, e não
sei ao certo qual usar nesse momento. Temo que alguma delas caia sob meus
braços encharcando-os de tal forma que eu não saiba controlar, por isso tenho
calma (tento ter calma).
Sei que o subjetivismo de minha vida causou-me problemas.
Sei que ao passo que eu não me entendia, não fazia mais
alguém me entender.
Fiz promessas para livrar-me dele, inventei que havia me
libertado, quis me convencer de tal, de tola me fiz, de tola deixei-me fazer.
Esse subjetivismo que me fazia escrever (ou mesmo falar) nas
entrelinhas, que me fez me perder mais ainda quando eu já estava perdida por
entre meus sentimentos, pode ter uma causa quase comprovada, pra não dizer
certamente comprovada: Medo.
Esse ator que participou de vários capítulos, lá meses, anos
de minha história, e que ainda teima em pegar papéis de figurante, esteve tão
presente que chegou a me cegar. Tolice ou não, fraqueza ou não, sendo sincera
agora, sei que por ele eu pequei, sei que por ele eu deixei o regador de lado e
as flores murcharam no parapeito da janela.
Não apareci para rega-las nem mesmo depois. Nem mesmo quando
“as coisas” pareciam mais calmas-pareciam, é bom frisar- pois nunca soube
quando elas estavam de fato calmas. Só sei que não apareci e elas parecem
murchas. O que mais me surpreende é como elas deixam a janela triste. Como se
eu não fosse lá, eu não as reguei e agora elas deixam a sala triste. Mas, ao
mesmo tempo, não posso tirá-las de lá. Não as tirarei, não as enterrarei no
jardim dos fundos, lá plantarei outras.
Os outros motivos que me fizeram não aparecer para regá-las
(regá-lo) eram bastante convincentes (mas não mais). Não me julgo por tal, não se pode convencer
uma realidade com outra, afinal.
Eu não temia que aquele cravo crescesse de tal modo que não
se comportasse mais dentro da sala, temia não saber lidar com isso, não saber
se podia prometer tanto. Medo e mais uma vez medo. De receio, cortei ramos
seus. Arranquei flores de seu vaso. E deixei-o lá, como se ele fosse continuar
florescendo independente da água que eu fornecesse. Tolice.
De vez em quando volto a olhar de longe para a mesma janela,
mas agora não cabe a mim rega-lo Tenho água, em abundância, mas ele morreria
caso eu forçasse qualquer aproximação. De murcho ficou ferido. E de ferido,
agora sente dor com a mesma água que um dia tanto quis, água que não levei.
Ele lá permanecerá. Não o retirarei. Minhas mãos não o
farão. Caso um dia chova e ele aceite outras águas, caso já forte queira
abandonar o parapeito, não sei se algo poderei fazer, mas por minhas mãos, elas
não sairão de lá.
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