Barquinho de papel (azul)

Hoje sonhei com meu avô  Que tudo preparava para encontrar minha avó  Tudo. Elevadores, espaço, bosque, casa. Tudo que ele achava que precisava. Para encontrá-la e com ela ficar - novamente. Ontem fui dormir triste e acordei feliz com o sonho. Os detalhes se sobrepuseram na memória e a narrativa não tem coesão, coerência, tampouco roteiro. Só um sentimento: amor. Quase no final do sonho ele pegava a viola e começava a tocar música autoral para ela: Barquinho de papel. Enquanto eu, de posse de um papel azul, tentava fazer um origami de barquinho com um pássaro para entregar a ele, quando terminasse de tocar. Mas eu não soube terminar, me perdi entre as dobras. Ele tocara a última estrofe quando o sonho, esse sim, terminou: "Eu ja tava estressado  Com aquele tanto de trabalho Canário é igual a soldado  Se come fora de horário  Pode até não existir" Acordei cantarolando, como moda de viola, me perguntando o que havia de romântico nesta canção. Talvez houvesse nos v...

Há um cravo no parapeito da janela.


As palavras voltam a meus punhos e descem por meus dedos, mas ainda não sei se tomarão forma. Não sei se pintarei com elas um texto ou apenas farei delas aquarela. Tenho muitas cores em mãos, ainda nos potes, e não sei ao certo qual usar nesse momento. Temo que alguma delas caia sob meus braços encharcando-os de tal forma que eu não saiba controlar, por isso tenho calma (tento ter calma).

Sei que o subjetivismo de minha vida causou-me problemas.

Sei que ao passo que eu não me entendia, não fazia mais alguém me entender.
Fiz promessas para livrar-me dele, inventei que havia me libertado, quis me convencer de tal, de tola me fiz, de tola deixei-me fazer.
Esse subjetivismo que me fazia escrever (ou mesmo falar) nas entrelinhas, que me fez me perder mais ainda quando eu já estava perdida por entre meus sentimentos, pode ter uma causa quase comprovada, pra não dizer certamente comprovada: Medo.

Esse ator que participou de vários capítulos, lá meses, anos de minha história, e que ainda teima em pegar papéis de figurante, esteve tão presente que chegou a me cegar. Tolice ou não, fraqueza ou não, sendo sincera agora, sei que por ele eu pequei, sei que por ele eu deixei o regador de lado e as flores murcharam no parapeito da janela.
Não apareci para rega-las nem mesmo depois. Nem mesmo quando “as coisas” pareciam mais calmas-pareciam, é bom frisar- pois nunca soube quando elas estavam de fato calmas. Só sei que não apareci e elas parecem murchas. O que mais me surpreende é como elas deixam a janela triste. Como se eu não fosse lá, eu não as reguei e agora elas deixam a sala triste. Mas, ao mesmo tempo, não posso tirá-las de lá. Não as tirarei, não as enterrarei no jardim dos fundos, lá plantarei outras.

Os outros motivos que me fizeram não aparecer para regá-las (regá-lo) eram bastante convincentes (mas não mais).  Não me julgo por tal, não se pode convencer uma realidade com outra, afinal.

Eu não temia que aquele cravo crescesse de tal modo que não se comportasse mais dentro da sala, temia não saber lidar com isso, não saber se podia prometer tanto. Medo e mais uma vez medo. De receio, cortei ramos seus. Arranquei flores de seu vaso. E deixei-o lá, como se ele fosse continuar florescendo independente da água que eu fornecesse. Tolice.

De vez em quando volto a olhar de longe para a mesma janela, mas agora não cabe a mim rega-lo Tenho água, em abundância, mas ele morreria caso eu forçasse qualquer aproximação. De murcho ficou ferido. E de ferido, agora sente dor com a mesma água que um dia tanto quis, água que não levei.

Ele lá permanecerá. Não o retirarei. Minhas mãos não o farão. Caso um dia chova e ele aceite outras águas, caso já forte queira abandonar o parapeito, não sei se algo poderei fazer, mas por minhas mãos, elas não sairão de lá.

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