Barquinho de papel (azul)

Hoje sonhei com meu avô  Que tudo preparava para encontrar minha avó  Tudo. Elevadores, espaço, bosque, casa. Tudo que ele achava que precisava. Para encontrá-la e com ela ficar - novamente. Ontem fui dormir triste e acordei feliz com o sonho. Os detalhes se sobrepuseram na memória e a narrativa não tem coesão, coerência, tampouco roteiro. Só um sentimento: amor. Quase no final do sonho ele pegava a viola e começava a tocar música autoral para ela: Barquinho de papel. Enquanto eu, de posse de um papel azul, tentava fazer um origami de barquinho com um pássaro para entregar a ele, quando terminasse de tocar. Mas eu não soube terminar, me perdi entre as dobras. Ele tocara a última estrofe quando o sonho, esse sim, terminou: "Eu ja tava estressado  Com aquele tanto de trabalho Canário é igual a soldado  Se come fora de horário  Pode até não existir" Acordei cantarolando, como moda de viola, me perguntando o que havia de romântico nesta canção. Talvez houvesse nos v...

Número errado. Noite longa.

O que aconteceu com o sorriso escondido que por vezes se fez disfarçar? As flores no jardim parecem pálidas nesses dias de rotina injusta, esse sol que teima em dormir, cair em profundo sono enquanto se deseja fazer festa, enquanto se acorda disposta a amanhecer juntamente com ele, mas nada...
"Já passam das seis, por que a noite ainda não acabou?"
O que teria acontecido naquele dia de preguiça? Será que a ampulheta escorregou e no tempo se perdeu? Quanta areia ainda há por cair...
"Por que não amanhece?"
Teima em perguntar, sem entender aquela escuridão, sem entender o frio que a abatia, que adentrava pela fresta da janela pela qual mal se podia enxergar um passarinho cantando (qual passarinho?)...
"triiiim, triiiim"
"Alô?" - quem seria a uma hora daquela, quem poderia estar acordado num dia tão preguiçoso que mal se levanta...
"Alô? Eu gostaria de encomendar um abajur, o meu não funciona mais desde essa semana e estou me vendo louco para ler meus livros a noite, não posso ascender a lâmpada do quarto enquanto meu filho dorme"
"Desculpe, mas..."
"O  que? Vocês não estão trabalhando com entregas imediatas?"
"Não é isso..."
"Então, podem fazer? Então pronto! Deixo a encomenda confirmada. Um abajur com lâmpada fluorescente, tamanho médio, ligo depois para saber o orçamento, agora estou com pressa tenho que pôr meu filho na cama"

"A. Alô? Senhor.. Alô?"
"tum tum tum"
 A noite caíra de certo mais cedo que sempre, adormeceu à tarde e achava que já havia amanhecido, procurando a claridade lá fora, enquanto do outro lado alguém encomendava um abajur... Enquanto se sentia fria por dentro, escura como a lâmpada apagada do quarto sem livro, à noite.
O que podia tudo isso significar?
Provavelmente nada.
Olhava na agenda: "ArtEmluz xxx 36802734" enquanto seu número era "xxx 38602743"
Foi no jardim, ascendeu as lâmpadas coloridas que havia posto como uma rede, sentou-se e deixou-se banhar pela brisa de começo de noite... viu-se deslumbrada aproveitando toda aquela não mais escuridão confortável.
Adormeceu.
Na manhã seguinte, enquanto alguém ainda dormia no jardim, em meio ao trabalho rotineiro, a atendente, portando crachá e uniforme de cor preguiçosa, onde pode-se ler "ArtEmluz", atendia o telefone:

"Alô?... desculpe senhor, não há alguma encomenda de abajur médio, mas podemos providenciar."

04/09/2013 09:02 PM

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