Barquinho de papel (azul)

Hoje sonhei com meu avô  Que tudo preparava para encontrar minha avó  Tudo. Elevadores, espaço, bosque, casa. Tudo que ele achava que precisava. Para encontrá-la e com ela ficar - novamente. Ontem fui dormir triste e acordei feliz com o sonho. Os detalhes se sobrepuseram na memória e a narrativa não tem coesão, coerência, tampouco roteiro. Só um sentimento: amor. Quase no final do sonho ele pegava a viola e começava a tocar música autoral para ela: Barquinho de papel. Enquanto eu, de posse de um papel azul, tentava fazer um origami de barquinho com um pássaro para entregar a ele, quando terminasse de tocar. Mas eu não soube terminar, me perdi entre as dobras. Ele tocara a última estrofe quando o sonho, esse sim, terminou: "Eu ja tava estressado  Com aquele tanto de trabalho Canário é igual a soldado  Se come fora de horário  Pode até não existir" Acordei cantarolando, como moda de viola, me perguntando o que havia de romântico nesta canção. Talvez houvesse nos v...

Trocando as engrenagens, expondo as feridas

Há tempos tenho perdido partes da minha memória por momentos, os mais importantes - por sinal - é como se o parafuso de um relógio folgasse justamente à meia noite, quanto todos esperam as doze badaladas. Sinto-me caindo nos meus pesadelos, como se de tão assustadores eles estivessem se tornando reais, aquilo que um dia eu temi, a seda que separava o caminho do certo àquele do fracasso estivesse se rompendo e tudo se misturando e eu não conseguisse separar.
Sinto-me não sendo "posta a prova", mas como uma espécie de rearranjo da mente: primeiro o desarranjado, depois a ordem, como uma "limpa" no armário: você tira tudo, faz uma pilha na cama e depois recoloca apenas aquilo que realmente importa, apenas o vital, o que não for, dar-se outro fim. 
Sinto-me assim: numa cama com pilhas e pilhas de roupas e perfumes e hidratantes e sapatos, sem conseguir encontrar um pente, mas ao mesmo tempo sabendo que haverá uma hora em que tudo estará, novamente, no seu devido lugar, de um jeito melhor, mais organizado, mais adequado ao tempo de agora, ao presente, como se eu devesse me libertar de manias, vícios, de outrora para só assim encontrar um jeito de fazer isso dá certo, só que um jeito novo, o antigo não funciona mais, o relógio não é mais o mesmo, o velho parafuso já não encaixa, a norma mudou, apesar de ser o mesmo fabricante.
Resta-me ter paciência para encontrar-me nessa pilha de roupas; basta-me ser sensata para não jogar tudo embaixo da cama e dormir, esquecendo-me que um dia, amanhã - ou antes - ei de levantar e se não prosseguir com a nova missão, as traças devorarão minhas peças e além de permanecer com o quarto bagunçado, não terei mais o que vestir, como pentear os cabelos ou mesmo perfumar-me. Quem seria eu?
É, eu sei, não há porque desistir, afinal, quem sou eu para dizer que estou só, quem sou eu para dizer que cabe apenas a mim decidir o que já é obsoleto e o que não é, no fim das contas, se estivesse só, nem mesmo haveria notado a bagunça, ou quem sabe a necessidade de toda a reforma. Continuaria vivendo perdida dentro desse quarto de mim.

Se um cirurgião os meus órgãos  retirasse e depois meu corpo reformulasse, não seria (eu) mais munida de apêndice ou amídalas.

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