Barquinho de papel (azul)

Hoje sonhei com meu avô  Que tudo preparava para encontrar minha avó  Tudo. Elevadores, espaço, bosque, casa. Tudo que ele achava que precisava. Para encontrá-la e com ela ficar - novamente. Ontem fui dormir triste e acordei feliz com o sonho. Os detalhes se sobrepuseram na memória e a narrativa não tem coesão, coerência, tampouco roteiro. Só um sentimento: amor. Quase no final do sonho ele pegava a viola e começava a tocar música autoral para ela: Barquinho de papel. Enquanto eu, de posse de um papel azul, tentava fazer um origami de barquinho com um pássaro para entregar a ele, quando terminasse de tocar. Mas eu não soube terminar, me perdi entre as dobras. Ele tocara a última estrofe quando o sonho, esse sim, terminou: "Eu ja tava estressado  Com aquele tanto de trabalho Canário é igual a soldado  Se come fora de horário  Pode até não existir" Acordei cantarolando, como moda de viola, me perguntando o que havia de romântico nesta canção. Talvez houvesse nos v...

Paralelo

Talvez esteja presa ao que me prende por anos e faça dessa prisão meu lar;
quem sabe não sou eu o carcereiro, o sequestrador a pedir resgate...
posso também ser as grades, o chão e o cheiro de urina mijo (do ralo - ouso parafrasear);
o afastado quarto de cativeiro que a polícia não consegue encontrar;
à favor, contra a justiça (a lei dos homens, ouso corrigir),
encontro-me;
escondo-me;
perco-me
nesse lugar há tanto tempo que não sei, ao menos, quando cheguei, como vim parar:
Se por um furto qualquer, um um desacato à autoridade desmerecida;
Se por um sequestro relâmpago enquanto sonâmbula fazia o percurso diário,
como antes disse, não me recordo, apenas acordo todos os dias e vejo os traços na parede, as negociações ao telefone e presumo as lágrimas caindo e rostos sucumbindo do outro lado da linha.
Digo ter direito a uma ligação, mas não, dizem-me que não há linha - como não?- penso eu, se há uns instantes havia falatório lá fora...
"estás louca, havia silêncio e nada mais, deves ter inventado, aos montes acreditado no que queres se convencer"
Malditos mentiroso hão de ser!
Prisão ou cativeiro, policia ou ladrão não importa mais, se sou eu todos eles, se sou o lugar, se sou o que não sei e o pior pesadelo fui eu a pintar, a preparar aquarela e pincel, tela e jornais pela casa espalhar...
Chega, vou embora,
embora não saiba por que aqui cheguei, cansei dessa história mal inventada de frases mal rimadas que agora nasceram já deformadas sem ao menos a chance de ter a aparência que desejam ver o espelho refletir.
Se é que têm opinião...
Acabou o que restava de criatividade, acabou a paixão por hoje e quando se vai, não adianta mais insistir, não há mais o que as palavras tenham, hoje, para mim.
/31/10/ marca o calendário.
Acordo inebriada com o pesadelo da noite que teve fim.
De mente descarregada banho-me em límpidas águas do elétrico chuveiro à rugir.
Chora friamente o tanque superior, no verão desejadas, lágrimas de energia não empregada, de intenso fervor.
Deixo escorrer todo mal pensamento que ousou preencher minha mente enfraquecida que a noite - agora finda - trouxe de um lugar qualquer.
Toalha. Espelho. Café.
Livro. Varanda. Frescor.
Sem grades ou telefonemas, apenas o ar libertador da vida como deve ser, por Deus concedida e à mim cabida da melhor forma viver e ver que tudo que eu realmente precisar, Ele há de conceder.

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