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Mostrando postagens de abril, 2012

Barquinho de papel (azul)

Hoje sonhei com meu avô  Que tudo preparava para encontrar minha avó  Tudo. Elevadores, espaço, bosque, casa. Tudo que ele achava que precisava. Para encontrá-la e com ela ficar - novamente. Ontem fui dormir triste e acordei feliz com o sonho. Os detalhes se sobrepuseram na memória e a narrativa não tem coesão, coerência, tampouco roteiro. Só um sentimento: amor. Quase no final do sonho ele pegava a viola e começava a tocar música autoral para ela: Barquinho de papel. Enquanto eu, de posse de um papel azul, tentava fazer um origami de barquinho com um pássaro para entregar a ele, quando terminasse de tocar. Mas eu não soube terminar, me perdi entre as dobras. Ele tocara a última estrofe quando o sonho, esse sim, terminou: "Eu ja tava estressado  Com aquele tanto de trabalho Canário é igual a soldado  Se come fora de horário  Pode até não existir" Acordei cantarolando, como moda de viola, me perguntando o que havia de romântico nesta canção. Talvez houvesse nos v...

Sem ruídos, sem roídos.

Não mais ouço o estalar dos dentes esfomeados a dilacerarem as unhas por fazer; não vejo mais unhas por fazer. Por oras escuras, às vezes claras (quase nunca claras). Os escuros deixam resquícios por trás delas e o claro não fica de fato claro, permanecem, portanto, escuras. Roxas, vermelhas, pretas-azuladas. Miragem, Gabriela, hip hop . Humor ou quem sabe tempo. Passa-tempo sem tempo pra perder. Tempo que falta pra pintar telas, pra escrever cores. Nunca perfeitas . De tempos pra cá, sempre feitas .

Destino traçado e alguns balões de festa.

Caso pudesse, abordaria todos os pixels nessas linhas, mas não caberiam no tempo que tenho, meu relógio reclamaria e sua bateria acabaria antes que eu chegasse na metade; minha memória me trairia e não seria capaz de cumprir tal promessa, daí prefiro dizer: De um pouco falarei, mas não considere menos importante o que ficar omitido, ou mesmo não apareça nas entrelinhas, já que muito ficará para contar numa próxima parada, para pintar numa próxima tela.  Telas, acho que posso começar assim. As cores já foram de um todo: De pastéis à vibrantes, mas de fato predominantes nos tons de azul. Desde sempre, desde tuas primeiras aquarelas, de teus primeiros passos (não voltarei tanto assim, afinal, não posso me estender).   Bom, tua presença aqui no imóvel é fato, mas venho a registrá-la pela primeira vez.  Lembro de cartas, hoje estariam amareladas, que te escrevi falando de brigas e o apesar delas, como lembro de tu que dizias que eu sempre escrevia sobre. ...

Outros degraus, um corrimão.

O conhecimento traz o gosto. O gosto, o perfeccionismo e dele  vem a dedicação, ou será o contrário? Especificamente, o viaduto não será alterado pela ordem dos tratores (poderia ser o produto e seus fatores e as cores, mais uma vez, não mudariam). Nesse caminho a gente perde, mas aprende que decisões são excludentes e as prioridades devem compor, senão os degraus, o corrimão da escada.  Bom que seja o corrimão, daí a gente se apoia e não caí. Daí a gente se segura e pode até dançar uma valsa, um forró mais descomprometido ou mesmo um tango com uma rosa na boca, se o caso for de sedução. Se o problema do futuro é a gente não saber quando as prioridades vão mudar ,  o presente nos intimida à escolher mesmo sem saber se de fato iremos acordar, se os ponteiros vão avançar, se a gente vai gostar de quem a gente já gostou, se a Terra, enfim, continuará girando. Mas não importa e nunca importou. O futuro está onde nunca esteve, já que ainda não passou, de pretéri...

...queijos e goiabadas.

Aconchegar: O ato de se aproximar com um ar inocente que faz todo o mundo desaparecer. Perto. Mais perto. Perto até tocar.

Contagem regressiva em busca da tela ainda não tecida.

Cada dia preciso de um baú maior para o que tenho a dizer. Chegará o dia que precisarei de um baú grade o suficiente para todos os baús. E de baú em baú precisarei de dois cômodos, quem sabe três . De três em três um um pavimento. De dois não passará e terei um teto. E terei um imóvel. um, dois, três... o que virá depois? três, dois, um. Uma necessidade.

Sentido por sentido: Finalidade.

    É como manter-se calado. Tem a mesma utilidade de falar com as paredes num quarto de portas fechadas. É como estar no calabouço de olhos abertos ou no cinema de óculos escuros . Como escrever para um cego ou balbuciar para um surdo. Desejar comentários de um mudo ou esperar carícias de um maníaco.    Mas mesmo assim a gente continua, a gente escreve como se alguém fosse ler, não alguém, mas o alguém. A gente escreve e se sente dizendo, se sente conversando. A gente finge que disse e depois dar-se conta do fantástico momento que passou.    Nesse sentido é inútil, mas não em todos os sentidos.    Transpor os sentimentos para o papel é como provar de uma fruta desconhecida: Ela está ali, diante dos olhos, seu sabor é inalcançável até que se prova. Escrever é provar, provar da fruta já existente (sentimentos e afins) e assim conhecê-la, e assim poder falar sobre, entender, gostar ou não.    Mas a gente nunca quer só conhecer. A...

Extrapolando

São dois minutos antes do exigido. São poucas linhas e muitas ideias não claras. É pouco tempo para quem tem muito a dizer; é muito tempo para quem não quer ouvir. Para alguém com uma pedra de gelo na mãos, qualquer segundo é eterno; como um intenso beijo que poderia durar a noite inteira (Inverso). Foram dois minutos. Agora três.

Branco nº 2.

    Como não podia deixar de fazer jus ao dia, andei pela cozinha, pelo quarto... Mas foi mesmo na varanda, no suporte da lamparina que enconterei: “- Roube-me um beijo. (...) Ele se aproxima, olha fixamente, pensa no pescoço, lembra-se da advertência, decide pelos ombros, chega mais perto, deixa sua respiração tocá-la, torna olhá-la, sua respiração cada vez mais próxima, ele pode sentir o hálito dela, ela pode ouvir os batimentos dele, ela fecha os olhos, um milhão de coisas pela cabeça dele, suas mãos antes nos ombros dela agora sobem para nuca, ele fecha os olhos-ainda pode vê-la- a ansiedade a toma- Ele conseguirá?- Ele treme, ele abre os olhos, ele recua. Ela não sente mais a respiração dele. Ela não sente mais as mãos dele em sua nuca. Ela abre os olhos. Ela o avista. Ela não entende. O Silêncio também não palpita. Ele pega o guardanapo na mesa e começa a mexer, amassá-lo, talvez. Ela se refaz e admite o fracasso de seu aluno. Ele estende as mãos: Uma ros...

Levante exatamente às três.

Tum... Tum... Tum... na catedral. Trim...Trim...Trim... no despertador da cabeceira. Cucô Cucô Cucô     no brechó do outro lado da rua. São 3 horas. É hora de acordar. Hora de despertar e levantar pro dia que vai nascer. O sol ainda não apareceu, a Lua implacável, alguém ainda dorme depois da porta ao lado. Não são mais 3h. Hora de dormir. Já não é perfeito . Já foi feito . Per dido tempo.

Poderia acontecer. Eles podiam se ouvir.

- Boa noite. - Boa noite. (poderia ser um beijo) - Então, conseguiram resolver a falta de instrutores? Naquele dia já havia alunos reclamando. -Teve uma seleção hoje e conseguimos dois instrutores já com alguma experiência. Vão passar por duas semanas de testes e quando se interarem das normas, poderão saltar com os alunos. - Ainda bem, você já estava a ponto de um ataque, organizando tudo por lá. - Verdade. Mas acabou a agonia, ainda bem! Eles curtiram aquele silêncio, raro silêncio, na noite que começara o inverno, noite de folhas congeladas e do vento frio que entrava pela janela. Foi momentâneo, mas pode-se registrar, no vento, como um desenho, a marca de cada sorriso estampado, um em cada face (poderiam estar em uma única boca). - Sim, me deixa dizer. Hoje quando voltava da empresa, ainda no sinal fechado, avistei um casal que parecia discutir, ele com um ramalhete e ela não aceitando. Ele parecia pedir desculpas e ela chorava, mas sem ceder aos braços dele. Ent...

Ponteiros: Mais uma sobre o tempo.

Do tempo eu vim, tu vieste e pro futuro nós fomos. Do futuro que ficou no imperfeito, sobraram palavras incompletas e algo por conjugar num outro futuro que ainda não passou. Agora presente, indissociável passado e entrelaçado futuro, estamos aqui. Estou e tu estás de fronte a caminhos novos sem marcas no chão. De costas para as folhas caídas do outono que se foi. E se o vento da recente primavera traz novas folhas até ti, tu deves cuidar delas com zelo, se de fato não machucarem tuas mãos. Nunca soube quais as flores mais bonitas da primavera. Deveria ter subido em mais árvores e explorado mais campos. Mas num futuro que era pretérito, ao mesmo tempo, ficou o desejo não concretizado e no presente não há a lembrança. Por não entender como as flores podiam crescer depois de meses de frio, não senti seus perfumes. Não pude, não poderia, em hora passada, acreditar que sentindo eu entenderia. Deveria acontecer o contrário: Entender e depois apreciar e como a ordem não foi re...