Barquinho de papel (azul)

Hoje sonhei com meu avô  Que tudo preparava para encontrar minha avó  Tudo. Elevadores, espaço, bosque, casa. Tudo que ele achava que precisava. Para encontrá-la e com ela ficar - novamente. Ontem fui dormir triste e acordei feliz com o sonho. Os detalhes se sobrepuseram na memória e a narrativa não tem coesão, coerência, tampouco roteiro. Só um sentimento: amor. Quase no final do sonho ele pegava a viola e começava a tocar música autoral para ela: Barquinho de papel. Enquanto eu, de posse de um papel azul, tentava fazer um origami de barquinho com um pássaro para entregar a ele, quando terminasse de tocar. Mas eu não soube terminar, me perdi entre as dobras. Ele tocara a última estrofe quando o sonho, esse sim, terminou: "Eu ja tava estressado  Com aquele tanto de trabalho Canário é igual a soldado  Se come fora de horário  Pode até não existir" Acordei cantarolando, como moda de viola, me perguntando o que havia de romântico nesta canção. Talvez houvesse nos v...

Sentido por sentido: Finalidade.

    É como manter-se calado. Tem a mesma utilidade de falar com as paredes num quarto de portas fechadas. É como estar no calabouço de olhos abertos ou no cinema de óculos escuros. Como escrever para um cego ou balbuciar para um surdo. Desejar comentários de um mudo ou esperar carícias de um maníaco.
   Mas mesmo assim a gente continua, a gente escreve como se alguém fosse ler, não alguém, mas o alguém. A gente escreve e se sente dizendo, se sente conversando. A gente finge que disse e depois dar-se conta do fantástico momento que passou.
   Nesse sentido é inútil, mas não em todos os sentidos.
   Transpor os sentimentos para o papel é como provar de uma fruta desconhecida: Ela está ali, diante dos olhos, seu sabor é inalcançável até que se prova. Escrever é provar, provar da fruta já existente (sentimentos e afins) e assim conhecê-la, e assim poder falar sobre, entender, gostar ou não.
   Mas a gente nunca quer só conhecer. A gente quer manipular, mesmo fantasticamente, o que se escreve, manipular para alguém, destinar e se convencer.
   Há vezes, porém, que não há destinatário e ai sim, escrever é satisfação puramente pessoal. Não há a preocupação com o leitor. A gente lê uma, duas, três vezes e não se cansa porque aquelas palavras transpõe tanto o que se sente que é como uma mágica realizada. É de uma satisfação imensa e desejamos continuar a ler, quantas vezes forem possíveis, até a possível (não provável) obsolescência atingida. Improvável, mas, às vezes (mais uma vez) acontece, porém não há motivo para preocupação, caso isso ocorra, não faltarão novas palavras para serem escritas, novos textos ainda não obsoletos, novos em si, até a exaustão. 

Escreva. Prove. Delicie-se.

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