Barquinho de papel (azul)

Hoje sonhei com meu avô  Que tudo preparava para encontrar minha avó  Tudo. Elevadores, espaço, bosque, casa. Tudo que ele achava que precisava. Para encontrá-la e com ela ficar - novamente. Ontem fui dormir triste e acordei feliz com o sonho. Os detalhes se sobrepuseram na memória e a narrativa não tem coesão, coerência, tampouco roteiro. Só um sentimento: amor. Quase no final do sonho ele pegava a viola e começava a tocar música autoral para ela: Barquinho de papel. Enquanto eu, de posse de um papel azul, tentava fazer um origami de barquinho com um pássaro para entregar a ele, quando terminasse de tocar. Mas eu não soube terminar, me perdi entre as dobras. Ele tocara a última estrofe quando o sonho, esse sim, terminou: "Eu ja tava estressado  Com aquele tanto de trabalho Canário é igual a soldado  Se come fora de horário  Pode até não existir" Acordei cantarolando, como moda de viola, me perguntando o que havia de romântico nesta canção. Talvez houvesse nos v...

O contrário do desejo.


Eu realmente desejo, agora, que com algumas palavras eu possa esboçar um verdadeiro sorriso num rosto banhado por lágrimas. Frias lágrimas, como uma cascata que eu diria não poder ser contida tão facilmente, mas que foi consolada pelos mais dignos que poderiam existir.
Escrevo como quem pede um sinal para uma ideia, algo que me venha à mente e me surpreenda de uma forma que eu não posso nem imaginar agora. Então escrevo. Espero que sejam doces e acalentadoras, espero que sejam confortantes ou minimamente agradáveis palavras. Cenas. Pensamentos. Que tragam pensamentos bons, que façam olhos sorrirem, se os lábios não sentirem-se prontos para tal. Desejo que elas me transportem um pouco mais pra perto e me permitam sentir um pouco mais de perto.
Por mim, elas tomariam outro rumo e não seriam apenas doces, mas acho que isso não viria a calhar agora; cafunés, disso que eu preciso. Palavras que sejam como cafunés, daquelas que afagam e te fazem dormir, como uma história de mãe, como um colo de mãe (dentro de todos os limites possíveis, já que tal supremacia eu não poderia alcançar).
Em frente à lareira, com meus novos amigos, pude dessa vez ouvir uma evasão ao passado. Ele contava algo que nem ela havia escutando, uma cena do dia que seu coração foi partido...
- Nos meus sete anos...

- Mãe, aqui dói.
- Dói onde, filho?
- Aqui, aqui em cima.
- Cabeça, filho? Você caiu ou bateu?
- Não mãe, acho que dói porque ela brigou e perdeu.
- Brigou, filho? Perdeu...?
- É mãe, não dizem que a cabeça pensa e o coração faz de outro jeito? Dei uma flor a uma menina hoje e ela jogou no chão e disse que eu não era bom pra ela. Era uma flor tão bonita, achei que ela ia gostar, mas ela jogou no chão. Ai meu coração chorou e a cabeça brigou com ele porque a cabeça não sente como o coração. Só que o coração doía ai ele brigou com a cabeça e ela perdeu, agora minha cabeça dói. Dói porque o coração tava triste e brigou com ela.
- Ôh filho... Vem cá. E... O que você achou de especial nessa menina?
- Ela olhou pra mim, olhou quando eu cheguei na escola e sorriu. Mas ela fez meu coração doer e eu não quero mais ela. Eu não gosto mais de flores brancas.
- Mas mãe...
- Oi pequeno.
- Por que ela tinha que ter um sorriso tão lindo?

Ela então me aconchegou a noite toda e eu pude saber que nos braços de minha mãe eu estaria a salvo todas as vezes que meu coração doesse.
E eu estava certo.

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