Barquinho de papel (azul)

Hoje sonhei com meu avô  Que tudo preparava para encontrar minha avó  Tudo. Elevadores, espaço, bosque, casa. Tudo que ele achava que precisava. Para encontrá-la e com ela ficar - novamente. Ontem fui dormir triste e acordei feliz com o sonho. Os detalhes se sobrepuseram na memória e a narrativa não tem coesão, coerência, tampouco roteiro. Só um sentimento: amor. Quase no final do sonho ele pegava a viola e começava a tocar música autoral para ela: Barquinho de papel. Enquanto eu, de posse de um papel azul, tentava fazer um origami de barquinho com um pássaro para entregar a ele, quando terminasse de tocar. Mas eu não soube terminar, me perdi entre as dobras. Ele tocara a última estrofe quando o sonho, esse sim, terminou: "Eu ja tava estressado  Com aquele tanto de trabalho Canário é igual a soldado  Se come fora de horário  Pode até não existir" Acordei cantarolando, como moda de viola, me perguntando o que havia de romântico nesta canção. Talvez houvesse nos v...

Sem rítmo ou cachos: Absurdamente felizes!


Ainda havia uma cama. Um criado mudo. Peças pelo chão. Uma bandeja. Havia dois, houve um, agora novamente dois. Olhos abertos. Luzes acesas, em verdade claridade de fora. Sem testemunhas. Sem sonhos, apenas a realidade de algumas horas atrás.
De pé. Ainda caricias (sempre). Chuveiro como uma cascata, como se a água não viesse de um tanque, mas de um profundo rio, caudaloso e sem peixes. Ele, ainda sentado na cama, ouvia-a cantarolar no banheiro, tão desafinada quanto feliz. Uma canção que nunca o ensurdeceria, o agradava mais do que qualquer solo de piano. Nenhum show na Broadway seria capaz de superá-la.
Minutos.
Agora sentia a força com a qual aquela cascata desmanchava seus cachos enquanto ela, já vestida, procurava sua bolsa atrás de um desodorante, sem mesmo saber se havia algum por ali. Encontrou um dele debaixo da cama, decide por usá-lo. Embebida por aquele perfume pôde agora ouvi-lo cantarolar embaixo do chuveiro. Sem tanta emoção, porém, tão afogado quanto ela naquelas águas sem fim. Sem fim por 10 min.
Ela de costas. Ele de toalha. Um abraço molhado. Um susto mudo. Ela sentia aqueles cachos desmanchados em sem pescoço, pingos a deslizarem sobre seus ombros. Perguntava-se como cada segundo ali poderia ser narrado de forma poética- caso ela conseguisse pensar em uma forma de transformá-los em palavras, como se isso fosse possível.
Ele veste-se, depois de afastar-se e deixa-la pensando em poesias, perdida na realidade, embebida, desconcentrada nos cabelos que penteava antes dele se aproximar (agora ela embaraçava-os mais do que o contrário).
Ele toma o pente das mãos dela. Poderiam ficar ali por horas. Ficariam ali por horas se não fosse o estômago vazio e a necessidade de preenchê-lo. Não faziam ideia das horas. O relógio parado, os ponteiros não se moviam desde que o tempo deixou de importar, mas o sol já denunciara o dia nascido e eles já haviam decidido por descer e saciar uma necessidade fisiológica, não por desejo, apenas por necessidade.
Mesas, cadeiras, sem muitos pedidos mais, já era tarde para o café da manhã, mas não para eles. Encontravam-se do outro lado da rua, duas xícaras de cappuccino, alguns cookies e pãezinhos de mel ao alcance de suas mãos. Satisfaziam-se euforicamente. Tudo havia acontecido de repente, depois de um bilhete e ali estavam, no dia seguinte, ainda bêbados. Sem ponderarem, sem se importarem com ponderações. Não sabiam até quando iria durar, o tempo já havia deixado de mandar desde que suas pilhas foram retiradas.
Pagaram a conta. Foram até a casa dele que ainda vestia roupas do irmão dela. Lá a troca necessária foi feita e agora sim, podiam decidir o que fazer.

29/12/11 – 30/12/11

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