Barquinho de papel (azul)

Hoje sonhei com meu avô  Que tudo preparava para encontrar minha avó  Tudo. Elevadores, espaço, bosque, casa. Tudo que ele achava que precisava. Para encontrá-la e com ela ficar - novamente. Ontem fui dormir triste e acordei feliz com o sonho. Os detalhes se sobrepuseram na memória e a narrativa não tem coesão, coerência, tampouco roteiro. Só um sentimento: amor. Quase no final do sonho ele pegava a viola e começava a tocar música autoral para ela: Barquinho de papel. Enquanto eu, de posse de um papel azul, tentava fazer um origami de barquinho com um pássaro para entregar a ele, quando terminasse de tocar. Mas eu não soube terminar, me perdi entre as dobras. Ele tocara a última estrofe quando o sonho, esse sim, terminou: "Eu ja tava estressado  Com aquele tanto de trabalho Canário é igual a soldado  Se come fora de horário  Pode até não existir" Acordei cantarolando, como moda de viola, me perguntando o que havia de romântico nesta canção. Talvez houvesse nos v...

Sorriso, suor e prazer: Um começo.


Peixes assados. Conheceram-se um pouco mais, os três casais. Conversavam sobre histórias de cada um.
- Como vocês se conheceram?
Perguntam ao casal que chegara depois.
- Bom
- Bom
Simultaneamente. Risos.
- Bom (ela continuou) nós somos amigos a um tempo já. Um fim de semana, um morro: Foi o suficiente
                - É sua primeira vez?
                - Sim
                - Ah, então será a primeira de muitas. Para mim foi impossível não querer de novo.
                - Não sei não, não parece tão simples assim.
                - Relaxe, ninguém costuma achar. Raramente não há medo. O velho friozinho na barriga é normal.
Ele nervoso, não conseguia disfarçar
- Sabe, eu já fiz várias vezes. Quer que eu te conte alguns detalhes?
Ele tímido, dois minutos de conversa, mas sim, ele desejava saber um pouco mais.
                - Então, na hora, principalmente na primeira vez, você acha que algo dará errado, até chega a suar. Então, não pode mais sentir o chão, seu desespero aumenta e sua sensação que algo dará errado piora. Você tenta fazer tudo certo, segue todas as recomendações, se protege da melhor forma até fecha os olhos quando chega ao ápice. Porém você não estará só e a outra pessoa vai te acalmando até  que você relaxa, aos poucos, e ai sim, pode aproveitar. Sua mente viaja, seu corpo parece mais leve. Você sente uma liberdade sem igual. Um prazer muito grande. Você suspira. Não acredita quando vai perdendo velocidade. Vai chegando perto. Perto. Aterrissa. A sensação perdura. Você quer outra vez.
Ele fascinado
                - Uau! Você fez parecer tão bom, mesmo com a parte do medo.
                - Você confirmará e não creio que descreverá muito diferente. Já te deram as instruções?
                - Sim. Estou pronto quanto a elas e os equipamentos também.
                - Um minuto
Ela ausenta-se.
                - Ei, vou com você.
                - Você vai?
                - Sim, a não ser que prefira outro veterano...
Como se ele fosse...
                - N não, está ótimo!
Ele rubro.
                - Então, vamos!
Ela termina de se equipar. Vão para o local adequado. Posicionam-se. Passos: 2, 4 , 6, 8... Sem chão. Mãos próximas.
                - Abra os olhos – ela diz
Ele segura mais firme. Agora já começa a suar.
                - Abra os olhos, está perdendo uma visão perfeita.
 Um olho. Dois. Ainda treme. Verifica o equipamento. Corações disparados, o dele nem se fala.
                - Relaxe
                - Estou tentando, estou tentando
Ela inclina
                - Você é louca?
Ela ri compulsoriamente.
                - Relaxe
Finalmente, depois de respirar fundo, ele pode aproveitar. Flutuavam a cima do oceano. Por ele um infinito de sensações. O medo dava lugar a um prazer desconhecido. Ela estava certa, jamais ficaria apenas naquela primeira vez.
                - Então o que está achando?
                - Fascinante!
                - Aproveite, a segunda vez será ainda melhor.
Por alguns minutos permaneceram ali. Agora ele destemido. Ela dividindo a visão entre a paisagem e ele.
- Ei, você me fez parecer medroso!
- Admita você não foi o exemplo de coragem naquela tarde de verão.
- Ninguém acha tão simples da primeira vez, você mesma disse. Eu nunca tinha pulado de Asa Delta
- Só queria te acalmar - fala tropeçando em sorrisos.
- Ah foi? Não conseguiu!
- Claro que sim! Afinal, você foi, não foi?
- Fui, mas não por ter me acalmado. Você me encantou e eu tinha que te conhecer.
Silêncio. Olhos fixos. Ele não tinha dito antes, mas fazia sentido. Uma amizade começou naquela tarde de verão. Amizade que agora, diante daquela fogueira, já havia se transformado em algo mais. Seus novos conhecidos comentavam, mas eles não podiam (nem queriam) escutar. Uma mão no rosto dela. Um sorriso. Dois sorrisos, agora. Por terceiro apenas um, como dois, mas apenas um se fez. Já tinham vivido aquilo, num outro lugar, mas ainda eram eles: Os mesmos lábios.


                                                                                                                                                   08/01/2012

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